#FILMOTECA# - "Livre" (2014)

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Sinopse: Após a morte de sua mãe, um divórcio e uma fase de autodestruição repleta de heroína, Cheryl decide que é hora de mudar e investir em uma nova vida junto à natureza selvagem. Esperando conseguir esse objetivo, ela se aventura em uma longa trilha de milhares de quilômetros pela costa do Oceano Pacífico.

Quantas vezes é preciso errar até acertar? Quantas vez é preciso se perder para se encontrar? Certamente, essas são perguntas sem respostas pré-definidas, porque elas dependem dos objetivos e das situações vivenciadas por cada pessoas, mas uma coisa é certa: é preciso ter coragem para se aventurar e mudar o rumo das coisas para que novos resultados comecem a aparecer e mostrar que se arriscar, apesar de ser uma atitude por vezes perigosa, pode valer muito à pena.

Folha - UOL

A essência da história está impressa livro em que o filme é baseado (Wild: From Lost to Found on the Pacific Crest Trail, de Cheryl Strayed) é retrata nas telonas com todo o respeito que um bom livro merece e a verdade que o público precisa testemunhar. A narrativa segue um caminho onde a inspiração parece estar por todos os lados, onde cada detalhe tem o poder de trazer de volta uma lembrança muito significativa (seja uma situação boa ou ruim) vivenciada pela protagonista e tudo é feito de uma maneira muito singela e cuidadosa, guardando também, um espaço para explorar alguns momentos mais brutais no meio dessa jornada de auto-conhecimento.

Quando a ideia de se aventurar sozinha pelo mundo aos 26 anos de idade, sem ter a menor experiência em trilhas e também sem ter uma programação definida invade os pensamentos de Cheryl, ela não fazia ideia das surpresas (algumas doces, outras amargas) e das pessoas que iria encontrar pelo caminho e nem poderia mensurar o quanto essa decisão iria mudá-la internamente, fazendo com que ela finalmente se enxergasse como alguém muito melhor do que na verdade ela acreditava ser e muito mais capaz de realizar coisas que ela nunca poderia imaginar. Literalmente, foi um feliz tiro no escuro que atingiu o alvo em cheio.

Desassossegada

Embora hajam alguns momentos menos inspirados ao longo do filme (mas nem por isso menos importantes), a história se mantém forte e muito relevante porque continua caminhando na direção certa. Reese Witherspoon protagoniza o filme com muita eficiência (sendo ajudada por um bom elenco de apoio) e consegue - ainda que falhe algumas vezes - transmitir todos os sentimentos que uma jornada dessa magnitude carrega consigo (especialmente a solidão e a insegurança de alguém que está perdido em seus pensamentos). O trabalho de construção que Witherspoon realizou com essa personagem foi muito bem pensado e o resultado está nítido na tela. Entre cortes e entrecortes, a representatividade dela aumenta a cada nova cena.

A abordagem do roteiro é tão imersiva e verdadeira (onde a atenção aos detalhes fazem toda diferença), que consegue despertar no telespectador a vontade de pegar uma mochila e viajar pelo mundo sem destino certo. Pouco a pouco, uma sensação de liberdade (em toda à sua plenitude) vai surgindo enquanto o filme se desenvolve - como se o próprio livro estivesse sendo contado pela autora em uma narração no modo "off" - explorando ótimos dilemas em meio a deslumbrantes paisagens naturais (por exemplo: região desértica e montanhas de neve) com alguns leves toques de humor para contrabalancear a atmosfera densa e pesada que existe na essência da história.

G1 - Globo

Intimista em toda à sua perspectiva (tudo é visto pelo olhar da protagonista), o filme é dirigido por Jean-Marc Vallée com excelente nível de qualidade e uma grande riqueza de detalhes (quem acompanha o trabalho dele sabe que essa é uma de suas impressões digitais, tanto no Cinema quanto na TV). Cada segmento foi minimamente pensado para causar algum tipo de impacto e por menor que eles possam parecer, todos eles são essenciais para a história ganhar peso, forma e poder se desenvolver de maneira mais fluida e envolvente. Ele também trata dos problemas mais pesados da trama com bastante sensibilidade, e consegue ir destruindo todas as correntes que prendem à protagonista de uma forma muito crível.

Tecnicamente, o filme também merece aplausos porque conta com uma fotografia estonteante (alguns takes são impressionantes!), uma trilha sonora que mistura singeleza com elementos rústicos e uma edição de cenas bem definida, capaz de criar pontes durante toda à projeção... Conduzindo o telespectador com uma facilidade ainda mais apurada em meio a cada nova descoberta. Inegavelmente, é uma produção de alto nível e cheia de simbolismos (um vasto campo para ótimos debates acerca dos mais variados tipos de assuntos), onde o aspecto visual é tão importante quanto o seu próprio conteúdo.

IMDb

Quebrar o protocolo, fugir da mesmice, alienar-se de uma sociedade com padrões definidos e buscar uma melhor versão de si mesmo são as maiores e mais importantes mensagens de Livre, porque foi através da ousadia de querer pensar fora da caixa e pular de um grande penhasco que surgiu uma verdadeira renovação de alma, a transformação de um humano que já não é mais o mesmo que era até um tempo atrás... Agora, é um ser humano infinitamente melhor em todos os sentidos.



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